quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Rivotril, a droga da paz química

 por Ingrid Matuoka 

Em 2007, foram vendidas no Brasil 29 mil caixas de clonazepam, princípio ativo de medicamentos como o Rivotril. Hoje são mais de 23 milhões
Segundo a Anvisa, o consumo brasileiro do princípio ativo do Rivotril, o clonazepam, em 2007 era de 29 mil caixas por ano. Em 2015, este número atingiu os 23 milhões, de acordo com a IMS Health. O crescimento significativo em pouco tempo desperta as suspeitas de uso excessivo e desnecessário por parte de especialistas.
Com a promessa de aliviar as pressões e as ansiedades cotidianas, psiquiatras e médicos em geral receitam o remédio tarja preta, ou seja, que pode causar dependência física e psíquica, mesmo que o paciente não apresente um caso clínico de ansiedade.
Agravando a situação, o medicamento tem um valor relativamente baixo. Uma caixa pode apenas R$ 4. As mais caras são vendidas por cerca de R$ 20. 
Os ansiolíticos à base de clonazepam são as substâncias mais consumidas no Brasil entre os 166 princípios ativos de remédios tarja preta segundo o Boletim do Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados da Anvisa, entre 2007 e 2010.
“O Rivotril, de modo geral, é uma medicação segura e eficaz para o que se propõe, e pode ser de grande benefício quando bem receitado”, explica o médico psiquiatra Plinio Luiz Kouznetz Montagna, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo e ex-professor da Universidade de São Paulo, com passagem pelo Instituto de Psiquiatria da Universidade de Londres.
No entanto, segundo Montagna, seu uso tem sido banalizado. O psiquiatra explica que usar o Rivotril para apaziguar sintomas sem dar atenção às origens dos mesmos pode mascarar quadros mais graves, porque a ansiedade pode ser primária ou derivar de outras condições, como depressão e psicoses, que exigem outros tipos de tratamento.
Montagna esclarece que as manifestações da ansiedade podem ocorrer tanto na esfera psíquica (sentimento opressor, antecipação de perigo etc) como no corpo (dispneia, insônia, taquicardia). Já as causas da ansiedade podem derivar de elementos biológicos, psicológicos, socioculturais e do desenvolvimento individual em um contexto familiar determinado.

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