quinta-feira, 28 de maio de 2015

A cacimba.


 Mais uma pérola do grande poeta Zé da Luz. Vejam que preciosidade. É um Renoir das palavras brejeiras:


A CACIMBA

Tá vendo aquela cacimba
Lá na bêra do riacho,
Im riba da ribancêra,
Qui fica, assim, pru dibaxo
De um pé de tamarinêra?
Pois, um magote de môça
Quage toda menhanzinha,
Foima, assim, aquela tuia,
Na bêra da cacimbinha
Tomando banho de cuia!
Eu não sei pru quê razão,
As águas dessa nacente,
As águas qui alí se vê,
Tem um gosto deferente
Das cacimba de bêbê…
As águas da cacimbinha
Tem um gôsto mais mió.
Nem sargada, nem insôça…
Tem um gostim do suó
Dos suvaco déssas môça…
Quando eu vejo essa cacimba,
Qui inspio a minha cara
E a cara torno a inspiá,
Naquelas águas quilara,
Pego logo a desejá…
…Desejo, pra que negá?
Desejo ser um caçote,
Cum dois óio desse tamanho!
Pra vê, aquele magóte
De môça tumando banho!

Severino de Andrade Silva, mais conhecido como Zé da Luz, nasceu na cidade paraibana de Itabaiana em 1904, foi um alfaiate de profissão e poeta popular brasileiro; morreu no Rio de Janeiro em 1965.


Natal-RN 27 de maio de 2015.
Gibson Azevedo - poeta.

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