quarta-feira, 22 de outubro de 2014

O polêmico acordo ortográfico

Que tal botar as palavras seção, sessão e cessão no baú que ainda guarda a cartilha do ABC e reduzi-las a uma só grafia —sesão? E, sem qualquer preocupação com a origem das palavras, escrever xave e nãochave?
É isso ai. O novo acordo ortográfico continua a dividir opiniões de gramáticos. O filólogo Evanildo Bechara defende o acordo e bate forte contra a proposta do especialista Ernani Pimentel, que deseja ver ampliadas as alterações na língua portuguesa.
Coube à Comissão de Educação e Cultura do Senado colocar o assunto em debate nesta semana. E pouco pode fazer além de convidar as pessoas envolvidas para expor as suas opiniões, pois a Comissão não pode alterar o acordo, papel reservado ao Executivo, em entendimento com os demais países signatários do acordo ortográfico.
O professor e filólogo Evanildo Bechara, membro da Academia Brasileira de Letras, defende o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, enquanto Ernani Pimentel, presidente do Centro de Estudos da Língua Portuguesa, cobra maior simplificação gramatical.
Pimentel lidera o movimento que defende o critério fonético — a escrita das palavras orientada pela forma como se fala. Por esse critério, chave seria escrita com x (“xave”), sem preocupação com a origem das palavras.
“O ensino baseado na pseudoetimologia é dos séculos que se foram. Podemos agora discutir formas mais objetivas e racionais”, opina Pimentel.
Já o gramático Bechara considera que a simplificação fonética, “aparentemente ideal”, resultaria em mais problemas que soluções, pois extinguiria palavras que têm o mesmo som, mas com escrita e significados diferentes. E cita como exemplo as palavras seção, sessão e cessão, que ficariam reduzidas a uma só grafia — sesão.
O professor Pimentel sugere ainda eliminar o H e alterar as regras de uso do S, C, Q, J e G. Ficaríamos com: OJE, QEIJO, XAVE, ESESÃO e EZERSÍSIO. Polêmico, não?
O professor Ernani Pimentel sentencia: “As pessoas não estão se importando com o significado”.
Evanildo Bechara lembra ao longo de todos os debates em torno do assunto que a opção por uma escrita fonética, em Língua Portuguesa, já foi rejeitada no século XIX:“É preciso trabalhar para que a coletividade escreva o português de uma maneira única, mas quem deve propor as regras são os técnicos, as academias e as universidades”.

Convidada para o debate, Thaís Nicoleti, consultora de língua portuguesa do jornalFolha de S. Paulo, elogiou o acordo ortográfico e defendeu o aprimoramento do ensino de português nas escolas brasileiras, com exigência de mais leitura.

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