terça-feira, 26 de agosto de 2014

O NHS (National Health Service) e a utopia (ou os milagres) do SUS

 

O SUS é utopico e opera alguns milagres com os recursos de que dispõe. Sejamos mais claros.
Qualquer promessa de melhora da saúde pública brasileira deve vir acompanhada de discussões sobre o financiamento. Não precisa ser um especialista para saber. Hoje o National Health Service, da Inglaterra, que nos serviu de inspiração, consome anualmente 109 bilhões de libras, ou quase R$ 403 bi. Isso para atender menos de um terço da população que temos no Brasil. Se quisermos adequar o orçamento à nossa densidade demográfica (sem considerar as sobrecargas de um país em desenvolvimento, como efeitos da violência e do ainda precário saneamento, sem contar a incomparável extensão territorial), teríamos que garantir, por baixo, R$ 1,3 trilhões, para garantir a mesma média de investimento por pessoa.

Ora, isto é simplesmente impossível. O orçamento total da União hoje, sem considerar, portanto, os recursos de estados e municípios, é de R$ 2,48 tri. É como se metade de todo o dinheiro disponível fosse bancar a saúde. Mas também queremos educação, infraestrutura, bons salários para profissionais, etc.

Está mais do que na hora de colocar a discussão às claras para a população. Mas há interesses em não abrir o jogo: governos não querem passar por incompetentes, pedindo mais dinheiro; a grande mídia gosta de esconder o drama do subfinanciamento para jogar políticamente com a falta de informação; oposições se aproveitam para prometer o impossível; por fim, entidades representativas dos médicos usam de demagogia para garantir benesses corporativas. Não precisamos nem falar do lobby de planos de saúde, responsáveis pela campanha contra a CPMF.
Está todo mundo errado. Grande parte da população realmente acredita que é possível fazer saúde (universal e gratuita) de país desenvolvido com PIB de país em desenvolvimento. Ou nos contentamos com menos. Ou temos que discutir novas fontes.

Para piorar, um maldito lugar comum que se reproduz como bactéria: bastaria ter melhor gestão e eliminar a corrupção. Ora, nem a Inglaterra conseguiu fazer isso. Os recursos perdidos naquele país, com fraudes e corrupção, chegam a 7 bilhões de libras, ou quase 26 bilhões de reais, anualmente. Nada garante que nossos desvios e desvãos superem, proporcionalmente, esta marca.

Portanto, a discussão prévia e necessária é: mais dinheiro. O resto é complemento.
Por outro lado, diante de um quadro como este, se o SUS ainda consegue ser visto como bom e ótimo para 30% da população, e ao menos razoável para outros 44%, nada se assemelhará mais a um autêntico milagre de gestão. Observe que o orçamento da saúde privada é proporcionalmente muito maior que a da saúde pública, e ainda assim consegue uma aprovação modesta da opinião pública.
Fontes:
Sobre orçamento e funcionamento do NHS:http://www.nhs.uk/NHSEngland/thenhs/about/Pages/overview.aspx

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