sábado, 19 de abril de 2014

Convergência de interesses por trás da violência

EDITORIAL
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  • Autoridades precisam investigar em profundidade o pano de fundo das invasões de propriedades e ataques orquestrados à política de pacificação

Problemas fundiários e déficits habitacionais são temas sempre presentes na agenda de contenciosos do poder público do país. Da mesma forma, a violência decorrente da criminalidade. Rio de Janeiro e São Paulo, os dois estados mais fortes, vivem às voltas com estes problemas, enfrentando surtos de invasões de terrenos e prédios, públicos ou privados, e ataques contra agentes de segurança. Mas são ações que se estendem também, em maior ou menor escala, a outras regiões. Táticas e métodos semelhantes nesses episódios sugerem um pano de fundo que os tornam ainda mais preocupantes — uma espécie de convergência de interesses por trás da violência, fomentada nas sombras, um fio que as autoridades precisam puxar.
O Rio, particularmente, foi alvo, nas últimas semanas, de investidas quase simultâneas nessas duas frentes. Os ataques contra agentes de UPPs e as próprias unidades policiais, e, na semana passada, a invasão de um terreno da Oi, na Zona Norte, que se desdobrou em graves distúrbios, não são episódios estanques do ponto de vista de suas implicações.
São ações organizadas em pré-período eleitoral e, no caso das UPPs, com visível interesse de desgastar o bem-sucedido programa de pacificação de favelas tradicionalmente conflagradas.
É nítido que se desenvolve no país uma “indústria” da invasão, na deliberada intenção de, em cada episódio, criar fatos consumados, emparedar governos ou simplesmente estabelecer a baderna, com o objetivo de gerar dividendos políticos ou pecuniários. Também há, por trás dos ataques a agentes policiais, as digitais desse mesmo pano de fundo. Tanto quanto dar respostas firmes a cada incidente, o poder público precisa investigar a patente possibilidade de agentes desses surtos de ilegalidade — o crime organizado, políticos mal-intencionados e aproveitadores em geral — conduzirem seus atos por uma comunhão de objetivos.
São fortes as evidências de que tais ações obedecem a comandos que operam à margem da lei, sejam eles formados por traficantes/milicianos interessados em pôr a população contra a polícia, integrantes de máfias que lucram com ocupações ou maus políticos que, a pretexto de fazer oposição, agem inspirados pelo lema do “quanto pior, melhor”. A existência desses grupos que operam organizadamente à margem da lei é inquietante.
Mas se eles atuam, mesmo que apenas em tácito condomínio de interesses, a questão ganha uma dimensão que reclama, das autoridades, em todo o país, reações inequívocas de defesa do estado de direito. No caso, com iniciativas não só dos governos regionais, mas com a participação efetiva também da União por seus organismos de resguardo dos cidadãos.
O Estado, que tem o dever de zelar pela segurança pública, não pode se manter leniente diante dessas agressões orquestradas.

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